domingo, 30 de outubro de 2011

BANCÁRIO, VENDERAM NOSSO CARRO COM A GENTE DENTRO!


Quando morei em Goiás, lembro de uma história real sobre um pastor que, decidido a mudar com a família para os Estados Unidos, resolveu vender sua igreja com a porteira fechada. Ele precisava levantar recursos para comprar as passagens e tirar o visto de toda a família dele. A expressão "com a porteira fechada" remete aos negócios envolvendo fazendas. Quando o fazendeiro resolve vender sua fazenda "com a porteira fechada" significa que ele vende com tudo dentro, desde a sede da fazenda até os animais e equipamentos. Então, voltando ao caso do pastor de Goiás, ele vendeu a igreja com todas as suas "ovelhas" dentro. Com isso, minha mãe, que era uma dessas "ovelhas", perdeu a confiança naquele pastor. Quando ele voltou dos Estados Unidos, ninguém mais confiava nele.

Por que contei essa história sobre o pastor que vendeu sua igreja "com a porteira fechada", se esse texto tem no título referências a bancário e a carro? Bem, a expressão "com a porteira fechada" é uma metáfora e recentemente, nós, bancários de Belo Horizonte, ouvimos uma nova metáfora na assembleia em que o Sindicato dos Bancários de BH e Região decidiu acabar com uma greve que durava 21 dias. A metáfora, dessa vez, foi a do vendedor de carros, que um dirigente do sindicato contou, justificando por que deveríamos encerrar a greve. Ele contou mais ou menos assim:

"Gente, negociar depende das duas partes em um negócio. Imagina que eu estou vendendo um carro por 20 mil reais e um comprador oferece 15 mil reais. Nós vamos negociar e chegar a um meio-termo. Se eu não abro mão dos 20 mil e o comprador não oferece mais que 15 mil, a negociação trava."

Exposto o argumento do dirigente sindical, vamos entender "a metáfora do vendedor de carros":

Carro: significa a greve dos bancários.
20 mil reais: significa o índice de 12,8% reivindicado pelos bancários.
Comprador: significa bancos.
15 mil reais: significa o índice de 8% oferecido inicialmente pelos bancos.

Então, o que o dirigente sindical quis dizer foi que o sindicato - o "vendedor" - vendeu a nossa greve para os bancos por 9%. Ou seja, muito mais próximo do preço oferecido pelo "comprador" do que do esperado pelo "vendedor". Será que o negócio foi bom? O "vendedor" acha que sim e nós, bancários, temos certeza que não. Porém, como o silêncio do "comprador" foi muito longo e os bancários já estavam cansados da incompetência do "vendedor", os bancários resolveram acatar a decisão do "vendedor" e encerrar a greve - ou "vender o carro".

Bem, dentro da nossa greve - o "carro" - estávamos nós, bancários. O vendedor vendeu o nosso "carro" com a gente dentro! Ainda não terminou, bancário! O "vendedor" ainda cobrou nessa operação uma taxa de retorno dos bancários de Belo Horizonte: R$ 50,00 por ter intermediado o "negócio". Não sei se se trata de venda casada, de cobrança indevida, mas esse negócio cheira muito mal. E o "vendedor" ainda perdeu a confiança do seu cliente - nós, bancários.

Se houver um novo "negócio", que tal sermos todos chamados a discutir os valores e acessórios? Que tal mudarmos de "vendedor"?

José Cristian Pimenta - Bancário do Banco do Brasil
Bacharel em Comunicação Social pela UFG

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