domingo, 17 de novembro de 2013

Um mês depois do fim da greve, um balanço necessário

Após 23 dias de paralisação, os bancários reunidos em Assembleia no dia 11 de outubro decidiram pelo encerramento da greve. Apesar de um sutil detalhe, o encerramento da greve não necessariamente representa a aprovação em massa das propostas apresentadas pelo banco. É isso que queremos debater aqui, avaliando esta greve como um todo.



Se a greve de 2012 foi desmantelada com um acordo rebaixado e um show de falta de democracia no sindicato, assim se iniciou o processo este ano. Falta de trabalho de base, encontros sindicais pouco divulgados e com pouco espaço para participação. Esta foi a tônica dos espaços que construíram a minuta de reivindicações. Minuta já rebaixada, por não levar em conta as perdas acumuladas pela categoria, nem levar outras pautas de nosso interesse. De qualquer forma era uma pauta mínima, e com ela iniciaram as negociações.



No dia 5 de Setembro os bancos propuseram reajuste de 6,1%. O comando rejeitou e deu o indicativo de greve a partir do dia 19, que seria discutido nas assembleias de base de cada sindicato. Tal qual planejado, a greve começou em todo o país. De maneira morna começou e tomou sequência crescente de agências fechadas. É claro que agência fechada não é sinônimo de bancário fora do ponto. Por conta do assédio recorrente a nossa categoria, muitos colegas "aproveitam" o tempo da greve para resolver pendências, vender produtos, etc. A despeito de qualquer motivo que os façam não entrar em greve, fato é que se o sindicato não faz um trabalho de base adequado, um bancário não convencido continuará o seu não convencimento. E é fatal a forma como o nosso Sindicato opera o trabalho de base: concentra suas atividades na área central de BH, deixando as demais regiões e cidades à mercê de passagens mensais para distribuição de jornais e pouquíssimas (ou nenhuma) atividade de politização da categoria. Enquanto em outros sindicatos vemos constantemente realização de cine-debates e rodas de conversa, aqui mal vemos assembleias. Não é a única razão, mas contribui bastante para a pouca participação da categoria.



As assembleias que seguiram foram no mesmo tom, com uma atividade cultural de uma hora e meia de duração seguida de uma discussão que durava pouco mais de vinte minutos. E isso na hora do almoço. Apesar da crescente adesão à greve, as assembleias assistiam a uma pequena participação de bancários, que pouco mudava. E assim seguiu até a primeira contra-proposta da Fenaban: 7,1%. A greve continuou seguindo a orientação do Comando, mas foi visível daí em diante a diferença na condução da greve. A greve que "é forte" mudou para "era forte"; o movimento que "é vitorioso" virou "foi vitorioso". Tudo no sentido de começar o desmantelamento. Até que durante a assembleia do dia 08/10 foi colocada a proposta de uma assembleia de avaliação dos rumos da greve. Até aí tudo bem, e entendemos isso como uma resposta às atividades que nós do MNOB desenvolvíamos. O porém foi a proposta do horário: 18h30, hora difícil para o bancário que tem outras tarefas diárias. Propusemos o horário de 13h. Após certa polêmica foi colocado em votação. O contraste não foi claro, e ainda assim o presidente do sindicato decidiu por conta própria que o horário seria o que ele propôs. Assim, nada democrático.



Durante essa mesma semana o movimento assistiu apreensivamente o desenrolar de uma nova negociação entre o Comando e a Fenaban. Apresentou-se a compensação dos dias de greve como maior entrave na negociação, ou seja, o Comando já aceitava o índice e demais pautas da nova contra-proposta da Fenaban. Fechado acordo sobre a compensação, o Sindicato de BH e região já encaminhou as assembleias divididas para enfim acabar com a greve. E o que assistimos nestas assembleias já era o mesmo desfecho conhecido: falta de democracia e respeito nas falas, defesa de uma proposta extremamente rebaixada e apresentação do movimento realizado até então enquanto uma grande vitória. Soma-se a isso a participação de gestores que são pressionados a irem à assembleia da categoria se posicionar em defesa dos interesses dos bancos, algo marcante na campanha deste ano no Banco do Brasil.



Entendemos de fato que o movimento este ano teve um salto de qualidade em relação aos últimos anos, em especial por questionamentos da própria base em virtude dos desgastes e sofrimentos que esta vem sentindo ao longo dos anos de trabalho. Funcionários que até então nunca participavam, este ano resolveram aderir ao movimento. À parte de qualquer iniciativa do sindicato, víamos uma grande qualidade nos debates. Era esta força que deveríamos aproveitar e continuar com a greve, com uma maior pressão. Porém, a linha do sindicato foi de defender o fim do movimento a qualquer custo. Qualquer fala contrária ao pensamento da diretoria sindical era tratada de forma pejorativa e desrespeitosa, como uma tentativa de desmobilizar a categoria.



Não é isso que queremos. A categoria precisa de uma direção forte que trabalhe cotidianamente a politização da base, e que faça da democracia um princípio básico de seus espaços de discussão e deliberação. Precisamos também de uma direção que não nos traia, cedendo anualmente a acordos espúrios que somente interessam ao governo e aos banqueiros.



Um mês passado do fim da greve já vimos que algumas coisas não mudam, dentre elas o assédio para o pagamento das horas de greve. Soma-se a isso condições de trabalho que efetivamente não mudam perante o assédio para cumprimento das metas (maior ainda no fim do semestre). Nota-se, portanto, que a greve em pouco avançou nesta direção.



Há aqueles que acreditam em um novo rumo, convidamos vocês para construir essa trajetória conosco, pois o movimento não para, e nossa luta também não!

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