Após 23 dias de paralisação, os bancários reunidos em
Assembleia no dia 11 de outubro decidiram pelo encerramento da greve. Apesar de
um sutil detalhe, o encerramento da greve não necessariamente representa a
aprovação em massa das propostas apresentadas pelo banco. É isso que queremos
debater aqui, avaliando esta greve como um todo.
Se a greve de 2012 foi desmantelada com um acordo rebaixado
e um show de falta de democracia no sindicato, assim se iniciou o processo este
ano. Falta de trabalho de base, encontros sindicais pouco divulgados e com
pouco espaço para participação. Esta foi a tônica dos espaços que construíram a
minuta de reivindicações. Minuta já rebaixada, por não levar em conta as perdas
acumuladas pela categoria, nem levar outras pautas de nosso interesse. De
qualquer forma era uma pauta mínima, e com ela iniciaram as negociações.
No dia 5 de Setembro os bancos propuseram reajuste de 6,1%.
O comando rejeitou e deu o indicativo de greve a partir do dia 19, que seria
discutido nas assembleias de base de cada sindicato. Tal qual planejado, a
greve começou em todo o país. De maneira morna começou e tomou sequência
crescente de agências fechadas. É claro que agência fechada não é sinônimo de bancário
fora do ponto. Por conta do assédio recorrente a nossa categoria, muitos
colegas "aproveitam" o tempo da greve para resolver pendências,
vender produtos, etc. A despeito de qualquer motivo que os façam não entrar em
greve, fato é que se o sindicato não faz um trabalho de base adequado, um
bancário não convencido continuará o seu não convencimento. E é fatal a forma
como o nosso Sindicato opera o trabalho de base: concentra suas atividades na
área central de BH, deixando as demais regiões e cidades à mercê de passagens
mensais para distribuição de jornais e pouquíssimas (ou nenhuma) atividade de
politização da categoria. Enquanto em outros sindicatos vemos constantemente
realização de cine-debates e rodas de conversa, aqui mal vemos assembleias. Não
é a única razão, mas contribui bastante para a pouca participação da categoria.
As assembleias que seguiram foram no mesmo tom, com uma
atividade cultural de uma hora e meia de duração seguida de uma discussão que
durava pouco mais de vinte minutos. E isso na hora do almoço. Apesar da
crescente adesão à greve, as assembleias assistiam a uma pequena participação
de bancários, que pouco mudava. E assim seguiu até a primeira contra-proposta
da Fenaban: 7,1%. A greve continuou seguindo a orientação do Comando, mas foi
visível daí em diante a diferença na condução da greve. A greve que "é
forte" mudou para "era forte"; o movimento que "é
vitorioso" virou "foi vitorioso". Tudo no sentido de começar o
desmantelamento. Até que durante a assembleia do dia 08/10 foi colocada a
proposta de uma assembleia de avaliação dos rumos da greve. Até aí tudo bem, e
entendemos isso como uma resposta às atividades que nós do MNOB desenvolvíamos.
O porém foi a proposta do horário: 18h30, hora difícil para o bancário que tem
outras tarefas diárias. Propusemos o horário de 13h. Após certa polêmica foi
colocado em votação. O contraste não foi claro, e ainda assim o presidente do
sindicato decidiu por conta própria que o horário seria o que ele propôs.
Assim, nada democrático.
Durante essa mesma semana o movimento assistiu
apreensivamente o desenrolar de uma nova negociação entre o Comando e a
Fenaban. Apresentou-se a compensação dos dias de greve como maior entrave na
negociação, ou seja, o Comando já aceitava o índice e demais pautas da nova
contra-proposta da Fenaban. Fechado acordo sobre a compensação, o Sindicato de
BH e região já encaminhou as assembleias divididas para enfim acabar com a
greve. E o que assistimos nestas assembleias já era o mesmo desfecho conhecido:
falta de democracia e respeito nas falas, defesa de uma proposta extremamente
rebaixada e apresentação do movimento realizado até então enquanto uma grande
vitória. Soma-se a isso a participação de gestores que são pressionados a irem
à assembleia da categoria se posicionar em defesa dos interesses dos bancos,
algo marcante na campanha deste ano no Banco do Brasil.
Entendemos de fato que o movimento este ano teve um salto de
qualidade em relação aos últimos anos, em especial por questionamentos da
própria base em virtude dos desgastes e sofrimentos que esta vem sentindo ao
longo dos anos de trabalho. Funcionários que até então nunca participavam, este
ano resolveram aderir ao movimento. À parte de qualquer iniciativa do
sindicato, víamos uma grande qualidade nos debates. Era esta força que
deveríamos aproveitar e continuar com a greve, com uma maior pressão. Porém, a
linha do sindicato foi de defender o fim do movimento a qualquer custo.
Qualquer fala contrária ao pensamento da diretoria sindical era tratada de
forma pejorativa e desrespeitosa, como uma tentativa de desmobilizar a
categoria.
Não é isso que queremos. A categoria precisa de uma direção
forte que trabalhe cotidianamente a politização da base, e que faça da
democracia um princípio básico de seus espaços de discussão e deliberação.
Precisamos também de uma direção que não nos traia, cedendo anualmente a
acordos espúrios que somente interessam ao governo e aos banqueiros.
Um mês passado do fim da greve já vimos que algumas coisas
não mudam, dentre elas o assédio para o pagamento das horas de greve. Soma-se a
isso condições de trabalho que efetivamente não mudam perante o assédio para
cumprimento das metas (maior ainda no fim do semestre). Nota-se, portanto, que
a greve em pouco avançou nesta direção.
Há aqueles que acreditam em um novo rumo, convidamos vocês
para construir essa trajetória conosco, pois o movimento não para, e nossa luta
também não!
0 comentários :
Postar um comentário