02/10/2012
CUT desmonta mais uma greve nacional dos bancários
Juary Chagasde São Paulo
Na última quinta-feira, 27/09, foi
escrita mais uma página vergonhosa na história do movimento sindical
brasileiro. A greve dos bancários, deflagrada no dia 18/09, foi
totalmente desmantelada pela CONTRAF (Confederação Nacional dos
Trabalhadores do Ramo Financeiro, entidade orgânica à Central Única dos
Trabalhadores/CUT), que abandonou a luta pelas reivindicações dos
bancários para mais uma vez se colocar na defesa do Governo Dilma.
Uma proposta ridícula diante de tantos lucros
Já no mês de setembro, após várias
rodadas de negociação, os banqueiros e o Governo Dilma apresentaram uma
proposta de 6% de reajuste, que na prática apenas iria repor a inflação
do período. Com isso, os bancários foram à greve com a certeza de que
era possível conquistar muito mais, pois se trata do setor da economia
mais lucrativo do Brasil, batendo recordes – tanto nos bancos privados
como nos estatais – ano após ano.
Após uma semana de greve, os banqueiros
foram forçados a aumentar a ceder e apresentaram uma proposta de
reajuste de 7,5%. Essa proposta foi resultado da forte adesão da
categoria à greve (principalmente nos bancos públicos), mas ainda estava
muito aquém tanto das reivindicações da categoria, como das condições
financeiras dos bancos.
Nos últimos 16 anos (de FHC, passando
por Lula e até chegar ao Governo Dilma) os lucros dos cinco maiores
bancos do país (Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Itaú-Unibanco,
Santander e Bradesco) atingiram um percentual de 1.575%. Isto significa
que somente os maiores bancos brasileiros tiveram uma lucratividade
média de 112% ao ano.
Por outro lado, os percentuais dos
salários dos bancários no mesmo período são bem diferentes. Os
trabalhadores dos bancos privados acumulam desde a época do Plano Real
até hoje uma perda salarial de aproximadamente 26%. Nos bancos públicos,
a perda é ainda maior: os bancários do Banco do Brasil sofrem com uma
defasagem de 86% e os da Caixa Econômica Federal aproximadamente 98, sem
falar nos demais bancos (BNB, BASA, BANPARÁ, etc.).
A greve, que estava com uma forte adesão
(mais de 9 mil agências em uma semana de paralisação) e ainda estava no
início, tinha, portanto, força para arrancar muito mais.
Dilma não governa para os bancários
Apesar da alta adesão dos bancários à
greve, a categoria teve que se enfrentar com a intransigência do Governo
Dilma, que desde o início da greve se negou a atender as reivindicações
dos trabalhadores.
O discurso de Dilma foi sempre no mesmo
tom: não era possível conceder aumentos acima da inflação, pois isso
comprometeria as contas do governo. Mas as medidas adotadas por Dilma
nos últimos meses são suficientes para desmentir tudo isto. Bastaram as
ameaças da crise econômica internacional voltarem a rondar o Brasil para
Dilma lançar um plano de incentivos aos grandes empresários que, dentre
outras coisas, privatiza os portos, aeroportos e rodovias brasileiras e
ainda prevê financiamento público do BNDES para as empresas envolvidas
nas operações.
Mas esse pacote de concessões – que de
tão pró-patronal foi chamado de “kit felicidade” por, Eike Batista, um
dos maiores empresários do país – não foi a única medida a demonstrar
que o Governo Dilma poderia contemplar as reivindicações dos
trabalhadores dos bancos públicos. Durante a greve, o Banco do Brasil –
que é de propriedade acionária estatal – montou uma megaestrutura de
contingências (prédios comerciais alugados com tecnologia e logística
para fazer funcionar as operações do banco realizadas por fura-greves)
que custavam em média 200 mil reais cada. Isto mostra que o Governo
Dilma, se quisesse, poderia atender as reivindicações dos bancários,
desde que seu critério fosse governar para os trabalhadores, e não para
os maiores empresários do Brasil.
Ao contrário disto, o governo do PT não
apenas se negou a atender as reivindicações dos trabalhadores, como
procurou a todo o momento desmantelar a greve, com a ajuda do
sindicalismo governista da CUT.
A subordinação da CUT aos interesses dos banqueiros e do governo
Como se não bastasse a necessidade de
enfrentar o setor mais poderoso da economia e o governo federal, os
bancários em greve ainda tiveram que – mais uma vez – lutar contra um
sindicalismo totalmente subordinado aos interesses patronais.
Desde os fóruns preparatórios a
CONTRAF/CUT, definiu uma pauta de reivindicações que foi encabeçada por
um índice de reajuste salarial de 10,25%, que não representa sequer a
metade das perdas sofridas pelos trabalhadores dos bancos privados. Ou
seja, enquanto os banqueiros lucram bilhões, a própria entidade sindical
que representa a categoria nas negociações se nega a explorar o
crescimento dos lucros da patronal com uma pauta que possa avançar de
verdade na reposição das perdas que a categoria sofreu ao longo dos
últimos 18 anos.
Mas isto tem um motivo. Para que o
governo do PT não seja colocado na berlinda a cada greve dos bancários,
foi instituída uma Mesa Única que conta somente com a presença dos
banqueiros e o que sai dessa negociação seria teoricamente estendido
também aos trabalhadores dos bancos públicos. No entanto, como as
negociações de reajuste salarial são definidas numa mesa com a FENABAN, o
governo se nega a negociar diretamente com os trabalhadores, sob a
justificativa de que respeita a Convenção Coletiva Nacional da
categoria. A CONTRAF/CUT, ao defender fervorosamente esse modelo de
negociação nos dias de hoje, tem ajudado bastante o Governo Dilma, assim
como ajudou a Lula: os bancários dos bancos públicos praticamente não
avançaram em nada nas suas reivindicações específicas e a categoria até
hoje nunca repôs as suas perdas.
Na greve deste ano, a CUT passou dos
limites. Em função da intransigência dos banqueiros e de Dilma, as
propostas apresentadas aos trabalhadores foram muito rebaixadas. Além do
reajuste de 7,5% ser muito baixo se comparado aos lucros do sistema
financeiro, os trabalhadores dos bancos privados não conquistaram a
estabilidade no emprego e os dos bancos públicos não avançaram quase
nada em suas reivindicações específicas. Ao contrário, a direção dos
bancos estatais e o Governo Dilma, não satisfeitos com a proposta de
reajuste sobre o piso salarial da categoria (8,5%), simplesmente se
negaram a acompanhar a íntegra da proposta da FENABAN e reajustaram o
piso salarial dos bancários do Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal
em apenas 7,5% (o mesmo índice de reajuste proposto pelos banqueiros
sobre todas as verbas), mostrando a farsa que é a história da Mesa
Única.
A postura da CUT diante desse golpe foi
vergonhosa: orientou a aceitação do acordo e o fim da greve com
compensação de dias parados, mesmo diante de itens que na prática
retiram direitos – como é o caso da proposta do Banco do Brasil sobre a
jornada de 6 horas, condicionada a uma suspensão de ações judiciais
movidas contra o banco, muitas delas em fase bastante avançada.
O posicionamento da CONTRAF/CUT frente a
um golpe da patronal e do governo no curso de um processo de luta dos
trabalhadores demonstra como o sindicalismo cutista está cada vez mais
subordinado à lógica e aos interesses do governo e dos banqueiros.
A greve mostrou que com mobilização é possível vencer
Apesar do acordo insuficiente, do
controle quase absoluto que a CUT tem sobre a maioria dos sindicatos de
bancários do país (cerca de 90% das entidades sindicais têm direções
cutistas à frente) e da audácia das manobras com as quais seus
sindicatos enterraram o movimento, alguns episódios desta greve
mostraram que com mobilização os trabalhadores podem superar todos esses
obstáculos.
Em Belém, os trabalhadores do BANPARÁ
(Banco do Estado do Pará) aprovaram no encontro específico da categoria
um índice de reajuste de 15%, contrariando o sindicato (dirigido pela
CSD/CUT), que inclusive protocolou junto ao banco uma pauta com reajuste
de 10,35% (o mesmo apresentado para a FENABAN). E mesmo começando a
greve antes do calendário nacional definido pela CONTRAF/CUT, os
trabalhadores conseguiram o mesmo acordo fechado nacionalmente, mas com
anistia total dos dias parados.
Os bancários da Caixa Econômica Federal
também deram uma demonstração de força. Na noite do dia 26/09, quando a
CONTRAF/CUT já tinha orientado a aceitação da proposta e o fim da greve,
os trabalhadores derrotaram as direções sindicais nos maiores e na
maior parte dos sindicatos do país, aprovando a continuidade da greve.
Lamentavelmente, no dia seguinte, os sindicatos da CUT chamaram
assembléias “relâmpagos” e, numa operação unitária com a direção da
Caixa, lotaram as assembléias de gestores, acabando de vez com o
movimento.
Apesar dessa ação vergonhosa da CUT,
ficou a lição de que quando os trabalhadores agem coletivamente, é
possível vencer os banqueiros, o governo e inclusive os agentes do
movimento que se colocam a serviço dos patrões. Isto precisa ser
resgatado nas próximas mobilizações e só desse modo os trabalhadores
podem impedir as traições dos sindicatos da CUT.
Para vencer os patrões e as traições da CUT, é preciso organização
Além da dureza que é comum a qualquer
enfrentamento com os banqueiros e com um governo que conhece de perto as
táticas do movimento sindical, as traições das direções sindicais
ajudam a desenvolver mais desconfiança, descrédito e desmobilização dos
trabalhadores. É por essa razão que muitos bancários aderem às
paralisações, mas resistem em participar das assembléias e das
atividades da greve: os trabalhadores perdem a confiança quando são
traídos pela própria entidade que devia representá-los.
Contudo, a única forma de enfrentar esse
problema é com a organização coletiva. A primeira resposta dos
bancários deve ser a total solidariedade aos trabalhadores que se
mantiveram em greve após o dia 26/07. O Governo Dilma, através das
direções do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, está ameaçando
esses trabalhadores com desconto. A outra resposta, não menos
importante, deve ser um “não” a qualquer compensação de horas
decorrentes de paralisação da greve.
Sabendo que a CUT não está ao lado dos
trabalhadores nessas lutas é que surgiu o Movimento Nacional de Oposição
Bancária (MNOB), que hoje é filiado à CSP-Conlutas. Desde então, o MNOB
vem fazendo um chamado a todos os trabalhadores que não têm acordo com
os absurdos protagonizados pela CONTRAF/CUT, para construir e fortalecer
uma alternativa diante da traição e da falência política da atual
direção do movimento.
Após mais esta greve, o
MNOB/CSP-Conlutas convida os bancários de todo o país para fortalecer as
próximas lutas, contra os ataques dos banqueiros, do governo e dos seus
agentes dentro do movimento sindical.
Fonte:
http://cspconlutas.org.br/2012/10/artigo-de-juary-chagas-aborda-cut-desmonta-mais-uma-greve-nacional-dos-bancarios/
Juary Chagas autor do livro: Sociedade de Classe, Direito de Classe. Publicado pela editora Sundermann, 2011. Bancário da CEF e membro do ILAESE (Instituto Latino-americano de Estudos Socio-econômicos).
http://cspconlutas.org.br/2012/10/artigo-de-juary-chagas-aborda-cut-desmonta-mais-uma-greve-nacional-dos-bancarios/
Juary Chagas autor do livro: Sociedade de Classe, Direito de Classe. Publicado pela editora Sundermann, 2011. Bancário da CEF e membro do ILAESE (Instituto Latino-americano de Estudos Socio-econômicos).
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