terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Bancários de BH em apoio aos ex-moradores do Pinheirinho


O processo de reintegração do território de Pinheirinhos está tendo destaque na mídia brasileira e internacional nas últimas semanas, desencadeando uma onda de protestos e críticas, inclusive por parte de autoridades governamentais. Não é por menos, o despejo de centenas de famílias, através do uso da violência de forças policiais, impediu que os moradores retirassem até mesmo seus pertences antes das demolições das casas. A reintegração objetivava repassar a posse do terreno de 1 milhão de m² ao milionário especulador Naji Nahas, acusado e preso por diversos crimes financeiros, inclusive formação de quadrilha. A empresa Selecta, da qual é proprietário, possui dívidas bilionárias com o governo federal e com o próprio município de São José dos Campos, onde se situa o terreno. Uma das acusações à empresa Selecta refere-se à declaração de falência da mesma, que teria sido usada inapropriadamente para esquivar-se de um rombo de US$ 40 milhões.

A gravidade da execução de tal operação no Pinheirinhos está no fato de que esta representa uma falha em várias instituições. Numa negociação que envolvia as três esferas do governo, a juíza da 6ª Vara Cível de São José expediu unilateralmente uma liminar permitindo a reintegração imediata da área. Outras decisões no Judiciário foram contrárias, como a da juíza federal substituta e a do TRF da 3ª Região. Ignorando estas decisões e adiantando-se ao término do processo na justiça, o Tribunal de São Paulo em ação conjunta ao município de São José dos Campos e à Polícia Militar, definiram e executaram o plano de despejo. Casos de agressões por parte dos policiais durante e após o despejo das família são comumente ouvidos dos moradores que estavam ali presentes. A situação dos abrigos é desumana, falta acesso a alimentação e água, e as mães alegam ouvir ameaças constantes do Conselho Tutelar em relação a guarda das crianças. O controle de entrada e saída dos moradores é algo que lembra os campos de concentração nazistas. Os mesmos foram obrigados a usar pulseiras de identificação em alguns abrigos e sofrem constantes ameaças e agressões dos policiais. A mídia não teve acesso nos primeiros dias, a não de maneira guiada pelos policiais, não podendo colher depoimentos de moradores. Ainda não há mortes comprovadas, mas alguns moradores alegam que pessoas ficaram desaparecidas em meio ao acontecimento. Apesar das tentativas de se omitir os fatos, o número de feridos é grande, incluindo neste grupo jornalistas, militantes de movimentos sociais e até mesmo autoridades do governo. Esse massacre traz à tona a questão do déficit habitacional no Brasil e sua difícil solução diante de políticas públicas que não funcionam.

E o que nós, bancários, temos a ver com isso? Aos nossos olhos, o déficit habitacional do país se mostra nítido, em cada atendimento que prestamos a um cliente de baixa renda, ao simular um financiamento habitacional. A maioria desses atendimentos é concluída com um olhar de tristeza à nossa frente, questionador: “Mas é só isso que posso financiar?”. Fica evidente o colossal abismo entre a renda da maior parte do povo brasileiro e os atuais preços das moradias. 


Fonte: Pinheirinhos - Relatório Preliminar da Violência Institucional. Disponível em http://www.slideshare.net/Tsavkko/pinheirinho-relatorio-peliminardaviolenciainstitucional





Participe também:
Debate: "A luta em defensa do Pinheirinho: Lições e perspectivas para o movimento por moradia"

Com a presença de TONINHO FERREIRA, advogado do caso do Pinheirinho e dirigente da CSP-Conlutas, e representantes das ocupações: DANDARA, CAMILO TORRES, IRMÃ DOROTHY e ZILAH SPOZITO-HELENA GRECO

Data: 15/02 - Quarta/ 18h

Local: Sindrede - Av Amazona n° 491, 10° andar, Centro, Belo Horizonte
 
Organização: COMITÊ DE SOLIDARIEDADE AO PINHEIRINHO - BH


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